São Paulo, Brazil
Sou jornalista, pós-graduada em Jornalismo Esportivo e Negócios do Esporte. São-paulina. Apaixonada por Futebol e pela profissão dos Goleiros.

domingo, maio 02, 2010

Esquecendo o passado e errando no presente


Um técnico e onze jogadores que encantam o mundo. Numa escalação que ninguém acreditava. A surpresa de um futebol-arte. Assim foi nossa seleção em 82 e 86, em especial a de 82, ambas no comando do Mestre Telê Santana. Amado, mas ao mesmo tempo tão odiado por suas escolhas de jogadores. E a história se repete com o atual técnico, Dunga.

Apesar das excelentes campanhas nas duas Copas do Mundo, e deixando o mundo inteiro cair aos pés de nossas atuações em campo, ficamos sem o tricampeonato. Alegria, talvez, dos críticos de Telê. Decepção dos amantes do futebol-arte.

Em 1982, o Brasil ainda era embalado pela música 'Voa Canarinho', gravada, em um compacto, pelo lateral Júnior. Vendendo por volta de 600 mil cópias, os brasileiros acompanhavam o show em campo e cantavam seu novo hino:

Voa, canarinho, voa

Mostra pra este povo que é rei

Voa, canarinho, voa

Mostra na Espanha o que eu já sei

Apesar dos espetáculos, a batalha dentro de campo é árdua, e a luta para ir à Copa é muito maior, ainda mais há quase 30 anos atrás. Quem diria quando foi criada, em 1930, muitas seleções não conseguiam participar devido as distâncias e gastos. Como os europeus que precisavam atravessar o Oceano para jogar, em viagens intermináveis em navios, desistiram da primeira Copa do Mundo. Além disso, os financiamentos das seleções não se comparam aos grandes investimentos de hoje.

Muitas das loterias esportivas foram criadas depois do ano 2000, com exceção da Loteca, criada em 1970. Com a arrecadação dessa loteria, as entidades esportivas tinham direito à 5,2% da arrecadação pelo uso de seu nome e simbolo. Só em 2001, surgiria a Lei Agnelo/Piva, que estabeleceu o repasse de 2% da arrecadação de todas as loterias federais ao Comitê Olímpico Brasileiro e ao Comitê Paraolímpico Brasileiro.

Hoje, a timemania é a loteria esportiva mais importante, criada em 2004, é repassado 22% da arrecadação aos clubes, criando condições para que os clubes quitem suas dívidas. Apesar da sua criação há 6 anos, a timemania foi regulamentada apenas em 2007.

Outra forma de financiamento dos clubes e seleção são os patrocínios, que assim como as loterias, começaram a ganhar espaço e novas leis após o ano 2000, incentivando os patrocínios. Apesar disso, a diferença entre as regras para clubes e seleção, sempre fizeram a diferença. A visibilidade e consequentemente a publicidade do patrocinador que vemos nos clubes é proibida nas seleções.

Enquanto que nos clubes vemos seus patrocinadores estampados em seus uniformes, nas Seleções as regras são outras, a FIFA (Federação Internacional de Futebol) proíbe que as camisas das seleções tenham estampa de patrocinador. Afinal, se nos clubes pode, qual a diferença nas camisas da seleção? Estética?

Hoje em dia, com a mídia, internet, enfim, os patrocinadores são vistos, mas nos anos 80, a realidade era outra. Sem visibilidade, o patrocínio é mais difícil. Claro que até 82,quando foi aprovada um lei que permitia a estampa, não se podia colocar patrocinador nas camisas, nem dos clubes. Mas se clubes ou seleção são times de futebol que disputam campeonato profissional, qual o problema?

Quando técnico da seleção, Telê Santana era patrocinado pela TV Mitsubishi, enquanto que a Seleção Brasileira tinha como patrocinador o IBC (Instituto Brasileiro do Café). Para dar visibilidade ao patrocinador, colocaram a logomarca do IBC (um ramo de café) ao lado da Taça Jules Rimet (taça que fica dentro do distintivo da seleção).

Além disso, o zagueiro da Seleção de 82, Edinho, chegou a declarar que os jogadores Éder e Serginho recebiam mil dólares para cada gol comemorado perto de uma determinada placa de publicidade. Não se pode criticar, aliás, acredito que era uma alternativa para conseguirem patrocínio.

Além do mais, com o futebol de hoje, que não chega nem aos pés dos espetáculos da Era Telê, onde temos jogadores com salários altíssimos que precisam de um patrocínio para pagar cada jogador consagrado, independente do rendimento atual, nada mais justo que os craques Éder e Serginho receberem por deixarem o patrocinador visível.

Mas alguém faltava nessa ajuda ao esporte, o governo com seus programas em prol do esporte. Se em 1982 era pouco visto, hoje em dia não mudou muito.

Há pouco mais de um mês para a Copa do Mundo na África, não vemos a movimentação de programas especiais. A única preocupação do Brasil é a Copa de 2014. Uma nação que pensa no futuro, sem dúvida. E esquece os problemas do presente.

O Governo Federal já implantou o ProCopa Turismo no Rio de Janeiro, onde oferece crédito para a construção, reforma e modernização das redes hoteleira, enquanto que os clubes fazer o impossível para arrecadar verba para manter e reformar seus estádios. O Turismo já está garantido. Os nossos atletas e nossa Seleção? Ainda vão depender dos patrocínios.

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