São Paulo, Brazil
Sou jornalista, pós-graduada em Jornalismo Esportivo e Negócios do Esporte. São-paulina. Apaixonada por Futebol e pela profissão dos Goleiros.

segunda-feira, maio 31, 2010

As regras do jogo




Apesar de não ter surgido no Brasil, o futebol foi o esporte mais bem acolhido pelos brasileiros. Mas, hoje, quem vê em todos os cantos do país, um grupo de amigos jogando nos campos de várzea ou mesmo em quadras, não imagina como esse esporte era para poucos.



Quando o futebol foi trazido ao Brasil, nem todos podiam jogar, era um esporte da elite. Negros, mulatos, pessoas de classes mais baixa, eram todos vetados no campo. No começo, o esporte era amador, os meninos ricos se apaixonaram pelo novo passatempo vindo da Europa e jogavam por gosto, sem receber, além do mais, não precisavam de dinheiro.



Depois de um tempo, novos apaixonados começaram a praticar o esporte, muitos jogavam bem, mas não conseguiam fazer parte dos times, a elite tomava conta dos poucos times existentes e não permitia a popularização do futebol.



Assim começaram algumas rivalidades, alguns à favor do futebol para todos, sem racismo ou qualquer outra discriminação; do outro lado, a elite brasileira que defendia sua exclusividade.



Lembraria o inesquecível Vasco de 1923, dos poucos times que não se intimidavam com as pressões, foi Campeão Carioca tendo em seu time negros, mulatos e analfabetos. A conquista ficou na memória e “inexplicavelmente”, o Vasco ficou 2 anos afastado dos campeonatos.



Aliás, o clube cruzmaltino foi afastado pela Associação Paulista de Esportes Amadores (Apea), esta, criada para continuar com o futebol amador, mas os esforços para impedir as classes mais humildes de participarem das competições estavam com os dias contados. Com alguns times formados, começaram as rivalidades e os torcedores pediam os melhores jogadores, independente de quem eles eram.

Durante um tempo, o que se via eram gratificações, os jogadores que se destacavam recebiam dinheiro ou algo material. Esse incentivo passou a fazer parte do esporte, o que não impediu de continuar o amadorismo. Mas afinal, como deter a elite?

Na Europa, a profissionalização já existia e, logo, os brasileiros souberam. Com excelentes jogadores não aproveitados aqui, o Brasil começou a perder seus craques. Os atletas perceberam que podiam viver da “profissão” jogador de futebol e não demoraram muito para irem jogar no futebol europeu.

Sem muita alternativa, o Brasil precisou enfrentar quem era contra. A elite tentou evitar, tentou de novo e de novo. Sem efeito, a profissionalização aconteceu. Logo, esse esporte passou a ser de todos e a elite abriu mão do futebol. Mas na afobação de mudar o amadorismo para o profissional, o Brasil deixou muitos erros que só foram corrigidos depois.



O principal foi a organização. Apesar de excelentes jogadores, os brasileiros viram nossa seleção perder em pleno Maracanã a Copa de 50 e ser desclassificado em 54. A falta de organização e planejamento não lhes permitiam bons resultados.

Do outro lado, ainda haviam as dificuldades dos atletas, apesar de serem profissionais, não tinham carteira assinada e nem benefícios, a regulamentação dos profissionais do futebol só iria acontecer em 1976.

Seria esse o ideal de profissionalização? Até quando vamos ver os clubes decidindo como querem?

Ainda arriscaria a dizer, sem medo de errar que mesmo hoje, ainda não há um futebol integralmente profissional. Muito também, pelos jovens atletas que jogam desde muito novos mas só se profissionalizam com seus 18 anos, passando, às vezes, 4 anos como atleta em formação e mais de 10 anos num “treino” constante, porém, sem poder ter vínculo com clubes.

Além do mais, uma das “profissões” mais cobradas, dirigente de futebol, não existe de fato, pois são pessoas que colaboram com o clube e não tem pagamento. Os dirigentes, passam boa parte de seu tempo se dedicando ao clube, trabalham por paixão ao futebol, mas não são profissionais, apenas colaboram com o clube.

Nesse conflito constante de interesses financeiros e sociais, sobra sempre para os técnicos e jogadores, que pouco podem fazer para mudar os erros que ainda temos no futebol profissional. Os torcedores cobram dos atletas, mas até que ponto eles são responsáveis pelo resultado sem o planejamento?

Os profissionais do futebol são descartáveis. O técnico que não faz do time um campeão, cai em poucas derrotas, muitas vezes sem tempo para planejar e fazer seu trabalho. Os atletas um dia estão em São Paulo, no outro dia no Rio de Janeiro e no outro na Europa, muitos com grande capacidade e talento, mas acabam não conseguindo seu espaço.

Os clubes, principalmente no Brasil, não conseguem manter os melhores jogadores no país. Em busca, geralmente, de melhor remuneração, os craques deixam nosso país e se aventuram pelo mundo. Talvez por terem uma organização mais atrativa, fato é que, a carreira profissional no exterior é muito mais vantajosa.


Jogadores. Torcedores. Paixão. O Brasil virou sinônimo de futebol, mas não podemos esquecer que o Brasil também é visto como o país sem leis, onde tudo pode ser feito, país subdesenvolvido, atrasado.

Seleção pentacampeã? Sim, mas com a maioria dos nossos craques fora de nosso país. Será que não falta conseguirmos segurá-los aqui e vermos de perto tantos espetáculos que fazem a alegria dos europeus?




Foto Original: VisualParadox.com

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